03 outubro 2004

A resposta

No passado dia 19, a crónica de Frei Bento Domingues suscitou, como sempre, o meu interesse. Depois de, no Domingo, não ter abordado directamente a questão, hoje coloca-lhe um ponto final - e que ponto final! - citando Fernando Pessoa, do Livro do Desassossego:
Em qualquer espírito, que não seja disforme, existe a crença em Deus. Em qualquer espírito, que não seja disforme, não existe crença num Deus definido. É qualquer ente, existente e impossível, que rege tudo; cuja pessoa, se a tem, ninguém pode definir; cujos fins, se deles usa, ninguém pode compreender. Chamando-lhe Deus dizemos tudo, porque não tendo a palavra Deus sentido algum preciso, assim afirmamos, sem dizer nada. Os atributos de infinito, de eterno, de omnipotente, de sumamente justo ou bondoso, que por vezes lhe colamos, deslocam-se por si como todos os adjectivos desnecessários quando o substantivo basta. E Ele, a que por indefinido não podemos dar atributos, é, por isso mesmo, o substantivo absoluto.

Actualização a 12.10.2004: Ligação para a quarta crónica, publicada a 10 de Outubro, no Público.